Tecnologia inovadora ajuda na preservação de espécie ameaçada de extinção em fragmentos de Mata Atlântica  

Estima-se que apenas 66 deles vivam livres no Paraná

Neste ano, a pequena população de muriquis-do-sul (Brachyteles arachnoides) — ou mono-carvoeiros — no Paraná ganhou mais alguns integrantes. Pesquisadores do Lactec identificaram dois novos grupos da espécie na região do Vale do Ribeira. Com a descoberta, estima-se que existam cerca de 66 animais em vida livre nas porções de Mata Atlântica do estado. A espécie, considerada um dos mais importantes restauradores da floresta, está criticamente ameaçada de extinção.

Em janeiro, nove animais foram registrados em uma comunidade rural do município de Cerro Azul. Em abril, outro grupo com aproximadamente seis indivíduos foi avistado no mesmo município. As descobertas são do Projeto de Conservação dos Monos no Paraná, conduzido por pesquisadores do Lactec, centro de ciência e tecnologia com ampla atuação na área ambiental, em parceria com a Copel e a Fundação Grupo Boticário. 

Lar em perigo

A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade e também um dos mais ameaçados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Do território original de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, restam apenas 12%.

A floresta é o lar de mais de 15 mil espécies de plantas e 2 mil espécies de animais, muitas delas ameaçadas de extinção. É o caso do muriqui-do-sul, o maior primata do continente americano. 

Para Robson Hack, biólogo do Lactec e coordenador do projeto, os novos grupos de monos são uma notícia boa, mas que vem com um alerta: “Tratam-se de novos registros de uma das espécies de primatas mais ameaçadas do mundo. Ainda há grandes lacunas de conhecimento sobre a sua distribuição geográfica, suas áreas de ocorrência, as condições do habitat e também de saúde dos grupos. Somente identificando esses locais e levantando essas informações é que a gente vai poder propor ações de conservação em longo prazo”.

Tecnologia em prol da preservação ambiental

Para fazer esse levantamento de informações, o Lactec utiliza imagens de drones desde 2019. Esse tipo de tecnologia tem sido usada de forma crescente em iniciativas de monitoramento de fauna, principalmente nos casos de espécies ameaçadas de extinção. 

Os drones permitem que uma área maior seja escaneada à procura dos animais em um menor espaço de tempo. Isso é especialmente relevante nas operações em florestas como as que fazem parte da Mata Atlântica, com mata nativa densa e localização remota. 

Além de localizar os muriquis-do-sul, as imagens aéreas permitem que os especialistas analisem características ecológicas dos fragmentos florestais, verifiquem suas formas e até localizem ameaças à biodiversidade local, como abertura de estradas, queimadas e desmatamento ilegal. Atualmente, o projeto realiza expedições de campo a cada três meses.

Proteção aos maiores primatas das Américas

Desde 2015, o Projeto de Conservação dos Monos no Paraná atua com o objetivo de fazer com que a espécie saia do risco de extinção no estado. Para isso, os pesquisadores reúnem dados sobre a distribuição geográfica dos animais; informações de como cada grupo vive em seus habitats e características demográficas, como o número de fêmeas e machos e suas idades. Além da coleta e do processamento de informações, a iniciativa prevê ações de conscientização, como atividades de educação ambiental junto a escolas da região.

Os muriquis-do-sul podem chegar a pesar 15 kg e medir cerca de 1 metro e meio. Segundo a Lista de Espécies Ameaçadas do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Natureza), restam aproximadamente 1.300 deles vivendo na natureza.

Sua preservação está fortemente ligada à conservação da Mata Atlântica: conhecidos como os jardineiros da floresta, os monos desempenham um papel importante na dispersão de sementes e na regeneração da mata.

Mas a situação atual não deixa os pesquisadores otimistas. “As pressões sobre as áreas de floresta nativa estão cada vez maiores e muitas áreas estão sendo transformadas em pastagens. Até o momento, os monos não estão presentes em nenhuma unidade de conservação dos governos estadual ou federal no Paraná, então as ações de proteção das florestas nativas com a presença da espécie são urgentes”, pontua o biólogo Robson Hack.

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