Alegria de pobre dura pouco

familia gazeta do bairro-gazeta-do-bairro

Jornalista Humberto Schvabe

Em meio a crise política, não podemos esquecer que estamos convivendo também, nesta dura realidade brasileira, com uma nova crise social.
Este maldoso processo de empurrar as famílias para faixas mais pobres, reduz o consumo e reverte o processo que vinha diminuindo a desigualdade social. A distância entre as condições sociais volta a aumentar.
Depois de mais de uma década onde tanto se comemorou o surgimento de uma “nova classe C”, com muitas famílias saindo da miséria, a coisa está se invertendo. Hoje vivenciamos o que poderíamos chamar de ampliação da “nova classe D”. O crescente desemprego é o principal motivo que empurra milhões de famílias para faixas de renda mais baixas. Muitos que experimentaram o saber de consumir um pouco mais, voltam a lutar para manter as condições mínimas de sobrevivência.
Isto é, na verdade, um fenômeno que atinge a todos indo muito além das necessidades básica de consumo. Caem as vendas no comércio, despencam as contratações de serviços, alijando também o grande contingente de pequenos serviços gerais que apresentava crescimento substancial. É a desigualdade voltando a crescer a olho nu.
Estimativas sempre são hipóteses, apresentadas com maior ou menor embasamento e por isto precisam ser colocadas sob a luz da realidade que nos cerca. Mas quando se fala em “encolhimento da classe média” mesmo variando de acordo com critérios de cada instituto, a informação de queda é unânime, sensível a todos.
Para a consultoria Tendências, entre 2015 e o final de 2017 cerca de 3,1 milhões de famílias da classe C (renda mensal de R$ 1.958 a R$ 4.720) estarão regredindo para as classes D e E. Um número um pouco menor entre 2006 e 2012, quando cerca de 3,3 milhões subiram à faixa intermediária, segundo dados do mesmo estudo.
Ao falar sobre diferença social temos que ficar de olho no índice de Gini (*veja detalhe ao lado).
Nos últimos anos ele recuou de 0,596 em 2001 para 0,515 em 2014 (quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade).
Como só temos os valores atualizados, até o fim do ano passado subiu muito, indo para 0,523. Mesmo sem atualizar pelo que podemos sentir e pelas informações levantadas por setores que acompanham as condições da população é certo que este valor vem subindo ainda mais.
Pra finalizar é preciso lembrar também que o velho “monstro” da inflação está de volta. Ele corrói salários e com isso o trabalhador fica com menos capacidade de consumo.
Além da provocação de que alegria de pobre dura pouco, é bom deixar o alerta para o fato que quem fez parte desta “nova classe média” além se sentir o gostinho de uma renda maior navegou por outras regalias consumistas, ampliou seus horizontes em termos de conhecimento e poder de decisão. E estas mudanças comportamentais, estão vivas na pele de quem as sentiu, e, não tem retorno.
Agora fica a questão: a falta destas regalias vai levar a uma luta criativa em busca ne novas oportunidades para retomar o poder de consumo, pelo trabalho, ou vai simplesmente levar à revolta?

GINI
O coeficiente de Gini é um cálculo desenvolvido para medir a desigualdade social, criado pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912.
Seus valores vão do 0 ao número 1. Zero seria quando existe igualdade absoluta na renda (todos com a mesma renda). Um corresponde a uma desigualdade total (uma pessoa, ou um pequeno grupo detêm toda a renda e os outros não tem renda alguma).

- Publicidade -
Compartilhe este artigo
adbanner