Há tempo, muito tempo, que a ideia de morrer me deixa indiferente, sem arrepios de terror. Hoje, porém, a vista de túmulos floridos, acometeu-me estranho pavor. O que há de terrível no morrer? Não é a morte em si e a ideia glacial de não mais ser amado pelos entes queridos que amamos, e que nos amavam, aqui na Terra... Por quanto tempo se recordarão eles de mim, após a minha partida? Por um mês? Por um ano? Por um decênio? No princípio flores e lágrimas... depois, ainda umas reminiscências... e, por fim, a vasta solidão do esquecimento... o gélido nirvana do vácuo... Não ser mais amado pelos que amamos, que morte horrível!. Não mais banhar-se carinhosamente nas pupilas de um ente querido, não mais ouvir o timbre da sua voz, não mais sentir o afago da sua mão, nem as pulsações do seu coração, que morte amaríssima essa!. Entretanto, algo me diz e garante que não vou morrer essa morte mortífera... algo me faz adivinhar e entressentir que há um amor mais forte que a morte. Que encontrarei no além um tépido ninho de afeição, uma família que não me fez, mas que eu fiz... Foi a família material que me fez, mas sou eu que faço a minha família espiritual. Não é o parentesco dos corpos que me interessa, interessa-me a afinidade das almas. E essa afinidade espiritual é obra minha, eminentemente minha. Eternamente minha é eterna como eu mesmo... sei que essa família que eu fiz não morre para mim porque os seus membros são da “comunhão dos santos”, envoltos e permeados de vida eterna, de amor imortal...
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