O que mais chamou minha atenção no atirador que matou na segunda-feira pelo menos 12 pessoas num cinema do Colorado onde “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” estava sendo exibido foram a máscara de gás, o colete à prova de balas, o capacete e as três armas que ele usou --incluindo um fuzil.
Uma testemunha disse que ele “parecia preparado para ir à guerra”.
Alguns podem dizer que o fato de o atirador parecer um soldado é um reflexo de todas as guerras que minha pátria vem travando, do Vietnã ao Iraque e ao Afeganistão, e de quão fortemente armados estão os seus cidadãos.
Mas há fatores menos óbvios que também fazem dos Estados Unidos um terreno fértil para chacinas.
Acho que a alienação social e a pobreza espiritual necessárias para cometer assassinatos em massa são um produto da cultura americana, mais que de qualquer outra.
É uma sociedade altamente competitiva e individualista, com pouco sentimento de comunidade. Cerca de 25% dos americanos vivem sós.
Não surpreende que as chacinas, incluindo a de ontem no Colorado, sejam quase sempre cometidas por homens brancos de classe média, o segmento da população mais pressionado a ter sucesso e que tem o menor senso de comunidade.
Acho que o Brasil é um terreno menos fértil para franco-atiradores devido ao senso maior de comunidade que existe aqui.
O que esses massacres todos têm em comum: aconteceram em lugares onde as pessoas estavam reunidas. Normalmente nos sentimos mais vulneráveis quando estamos sozinhos.
Mas, em lugares como cinemas, estamos mais vulneráveis juntos. É isso o que é tão assustador nesses crimes todos. É por isso que os americanos podem pensar duas vezes na próxima vez em que quiserem assistir, não apenas a um filme de Batman, mas a qualquer filme.
Michael Kepp, jornalista americano radicado há 29 anos no Brasil - Tradução de CLARA ALLAIN, para Folha de São Paulo.
Humberto Schvabe