Jornalista Humberto Schvabe
Depois de um primeiro momento de revolta diante do impacto das manchetes e dos exageros de uma reportagem sensacionalista envolvendo a Gazeta do Bairro, eu, minha esposa Neide e o vereador João do Suco, apresento esta reflexão aos amigos leitores da Gazeta do Bairro.
Em primeiro lugar, destaco o jornalismo e os profissionais da Globo Paraná e da Gazeta do Povo, em especial por este trabalho de reportagem investigativa, denunciando irregularidades no Legislativo Municipal.
Os exageros da reportagem, fruto da necessidade de bem “manchetear” e o jogo de palavras, são vícios (para alguns, qualidade) de um jornalismo que se apresenta como moderno tentando ir além da informação, com seus infográficos (troca o “leitor que lê” pelo “leitor que vê”). Uma mudança que tenta se aproximar da televisão que tem no visual, na cor, na imagem e por vezes no arranjo estético e sensacional, a melhor maneira de atingir a audiência.
Vale lembrar que esta rede também convive com o poder e só por isto se tornou uma “rede deste porte”.
Mesmo com estas ressalvas, nós que vivemos da informação, temos satisfação e até orgulho em ver como mudou a antiga Globo Paraná.
Depois de décadas sediada no glamoroso Palácio Lupion, compartilhando do poder político, se transformou hoje numa televisão muito bem estruturada, centrando sua atenção de maneira geral, na informação e até no entretenimento regional. Um jornal combativo, prestando um bom serviço para a comunidade.
Entendo bem a necessidade da continuidade destas denúncias para podermos minimizar a corrupção, identificada nos três poderes deste país.
Fui atingido em minha honra, sim, mas reconheço a necessidade dos colegas destacarem as denúncias, pois só assim poderão ter o apoio da população para dar continuidade ao trabalho. A corrupção é muito grande, os favorecimentos proliferam e somente jornalistas corajosos e arrojados têm capacidade para este fantástico trabalho investigativo.
Reconheço tudo isto, mas como vítima desta denúncia, que feriu-me profundamente, preciso lembrar que o direito a informação tem seus limites. São os limites da responsabilidade legal. A sociedade não pode admitir esses exageros, quase uma prática tendenciosa de se fazer jornalismo. Chegando a banalizar a notícia em troca do sensacionalismo. Segundo advogados, “a reportagem foi divulgada de maneira a não respeitar o princípio do contraditório e da ampla defesa”.
A Globo Paraná, em muitos momentos apresenta um “jornalismo inquisitivo” onde, a ânsia de condenar os culpados confronta princípios da liberdade de expressão e da dignidade humana. No caso, a realidade foi considerada parcialmente, utilizando imagens e entrevistas clandestinas e tendenciosas visando consolidar a espetacularização da notícia (confrontando o próprio código de ética do jornalista).
Como profissional do setor que sabe muito bem como fazer um jornalismo sério, responsável e construtivo, não posso aceitar a exposição do meu nome; a irresponsabilidade da mídia, a falta com verdade e o equilíbrio na divulgação das informações. Além disso, temos também a invasão de privacidade e o confronto a outros direitos considerados fundamentais pela Constituição.
O texto, em clima de arranjo teatral (ou seria Global) num jogo de palavras bem estudado, foi lido pelo apresentador -bem vestido e em ambiente requintado- apresentando os “seus bandidos” numa bem ilustrada “reportagem”. Informações e imagens foram estruturadas no tempo e no espaço, num ardiloso jogo de palavras. Fomos apresentados da maneira mais ridícula possível: o simpático João do Suco, de cara amarrada; a empresária Neide no portão de casa, como uma doméstica (numa fimagem clandestina e invasão de domicílio) e eu, estrategicamente colocado diante de um crucifixo, numa conversa direcionada para obter as palavras solicitadas pela pauta.
Para mim o momento mais difícil mesmo, foi quando o “garboso” apresentador, quase na reta de chegada, tripudiou da nossa amizade. É, existem pessoas que não cofiam na sinceridade de uma amizade verdadeira. Não confiam por não merecerem confiança. Tenho meus amigos e falo deles com orgulho.
Quanto à informação da TV: “continuou divulgando material de propaganda da Câmara, inclusive promovendo a imagem do veredor... e recebendo” é a maior de todas as mentiras apresentadas: a Câmara parou com a veiculação na Gazeta do Bairro muito antes do João ter sido eleito para a presidência. A reportagem também mostra má fé ao ligar o pagamento da divulgação de ações e atos da Câmara, como divulgação do João do Suco.
Ouviram-me, com o material já editado (a mesma repórter que invadiu minha casa). Depois, uma corrigidinha nas edições posteriores e no jornal, onde a reportagem foi exibida exaustivamente. Oportunidade efetiva para me defender, nada.
Em mais de 34 anos dedicados ao trabalho jornalístico, pouquíssimas vezes fui notícia. Agora, ao invés de notícia virei objeto de uma “peça”, editada para atingir o amigo João do Suco, utilizando a Gazeta do Bairro, Neide e eu, como ilustração, como meio para o objetivo maior.
A verdade
Em relação à denúncia, esclareço que, na primeira vez em que fui trabalhar com o amigo João do Suco, então líder do PSDB, tinha um trabalho a realizar. Ao fim deste voltei para o jornal. Ao assumir o cargo, não atentei para o que dizem agora ser uma irregularidade, ou seja, manter a coluna da Câmara Municipal na Gazeta do Bairro. Nem minha esposa Neide, que comanda a empresa viu assim, uma vez que a Gazeta do Bairro continuava prestando o serviço à casa de leis. Durante o período da mais recente contratação não foi realizada nenhuma divulgação; nenhum pagamento ao jornal. Assim que João assumiu a presidência, deixei a função por entender que nela nada mais tinha a fazer, já que na presidência foram mantidos profissionais suficientes no setor.
Se a justiça considerar ilegal a divulgação que a Gazeta do Bairro fez da Câmara durante os primeiros meses que trabalhei na casa, nada mais posso fazer que me curvar à lei. Não posso me curvar à provocação.
Não houve má fé, nem favorecimento. A divulgação da Câmara e o pagamento por este trabalho manteve o mesmo valor, sendo divulgado da mesma maneira que vinha sendo feita até então. A Gazeta do Bairro não fez e por isto não cobrou, nenhuma publicação da Câmara para divulgar o João do Suco vereador, líder, nem presidente, como induz texto e ilustração da “peça” da Globo.
Com insinuações e sem nenhum respeito à individualidade e aos princípios legais e morais, tentam jogar por terra uma vida dedicada ao jornalismo, à informação e a educação. Não conseguirão. Tenho consciência de minhas imperfeições e limitações, mas também tenho consciência das minhas qualidades, assim como continuo confiando na idoneidade e na responsabilidade pública do João do Suco.
Por outro lado, não vou perder minha capacidade de indignação, mesmo sabendo dos riscos de expressá-la contra uma das maiores e mais poderosas redes de televisão do mundo. Também não aceito que dilacerem minha dignidade e venham a ferir minha família.
Suzana Singer, atual ombudsman da Folha de São Paulo, termina seu comentário semanal deste domingo, 29, lembrando que o repórter tem o “dever de questionar e não pode ficar por aí engolindo pílulas douradas”. É preciso manter o ego bem regulado.
Humberto Schvabe