Carta aberta de empresários curitibanos contra
a reabertura precoce dos comércios na cidade
Nós, proprietários de bares, restaurantes, cafeterias e casas noturnas de Curitiba, solicitamos por meio desta carta que autoridades municipais e estaduais apresentem medidas mais enérgicas, essenciais e preventivas para mitigar os efeitos da Covid-19, bem como ações em relação à sobrevivência do setor da gastronomia curitibana durante e após a pandemia.
Estamos fechados. E permaneceremos enquanto for necessário. No entanto, pronunciamentos conflitantes entre governos, prefeitura e sindicatos patronais têm dificultado a clareza desta decisão, tornando-a cada dia mais difícil. Do lado de governo e prefeitura, cada instituição se pronuncia de uma forma e dá um entendimento de medidas. Do lado dos sindicatos patronais, alguns pedem a reabertura e outros, o fechamento.
A decisão de reabertura do comércio ignora, sob ponto de vista técnico, a proteção da população, dando vez à influência de forças econômicas e políticas, quando a prioridade deveria ser unicamente a saúde pública.
O iminente avanço do Coronavírus no país, a projeção pessimista para o número de mortes e o descaso com a importância do isolamento social provam a necessidade disso. E, quando aqueles que nos representam em qualquer esfera dão de ombros, cabe à sociedade civil agir.
Aos fatos:
- 16 de março: o Governador do Paraná, por meio de decreto 4.318/20, determinou o fechamento de comércios em todo o estado;
- 23 de março: o Governador mantém recomendação de que comércio não abra suas portas;
- 26 de março: o Governo mantém ordem de isolamento doméstico;
- 27 de março: o Prefeito de Curitiba manifesta publicamente a necessidade do isolamento social para evitar mortes;
- 7 de abril: a Prefeitura de Curitiba e Governo do Estado decidem manter o isolamento social como recomendação prioritária;
- 9 de abril: o Ministério Público suspende convite de ACP para reabertura dos comércios;
- 15 de abril: o Prefeito de Curitiba nega que Prefeitura sugeriu fechamento do comércio e cita que setor atuou por "modismo".
Ignorando o histórico recente e recomendações da OMS, a Prefeitura de Curitiba, a Associação Comercial do Paraná e o SindiAbrabar pretendem reabrir os comércios na próxima sexta-feira, 17 de abril. Sem nenhuma evidência de que o distanciamento social deva ser abandonado, o que pauta a decisão de reabrir comércios?
Diferentemente do que os órgãos acima citados indicam para a próxima sexta-feira, seguiremos fechados. Fechados contra os "modismos" das decisões públicas permeadas por lobbies empresariais. Fechados com a vida de milhares de pessoas. E só reabriremos quando os 6 itens para "flexibilização da quarentena", recomendados pela OMS, forem minimamente atendidos pelo Município.
Ressaltamos que esta decisão conjunta é permeada por dados – e que especulações, opiniões pessoais e teorias negacionistas não irão sobrepor estudos científicos. A reabertura precoce e a consequente elevação de contágios resultarão em um novo fechamento de portas. E novos prejuízos serão contabilizados: perda do poder de negociação com fornecedores e/ou locatários, desgaste nas relações de trabalho já estabelecidas, problemas com aquisição e validade de estoque, entre outros.
Conscientes de que perdas financeiras acontecerão, mas que vidas jamais podem ser tratadas como moeda de negócio, seguiremos fechados – também em consideração a todo o esforço realizado até aqui para que a curva de contágio seguisse minimamente controlada.
Além de nos mantermos fiéis às recomendações do Ministério da Saúde e da OMS, requisitamos às entidades competentes que assumam sua responsabilidade neste momento e nos posicionem sobre pautas e medidas que, de fato, fortaleçam os comerciantes do Estado, sem expor a vida de milhares de pessoas ou deixar negócios por sua própria conta e risco em um momento tão delicado. Entre elas:
- Abertura de discussão com a comunidade com participação deste grupo que vos escreve;
- Apresentação de medidas econômicas em prol do setor de Bares e Restaurantes de Curitiba enquanto a Covid-19 estiver, pelo menos, na sua fase aguda;
- Atuação e/ou regulação junto aos APPs de delivery que monopolizam o mercado e retiram 20% de margem na operação, o que, em grande parte, inviabiliza o negócio, favorecendo a atuação de inúmeros negócios que atuam nas plataformas sem se enquadrar em regimes tributários – canibalizando o mercado formal –, além de medidas claras para a segurança dos entregadores;
- Proposta para renegociação das contas de água e luz;
- Apoio e agilidade na disponibilização de crédito via CEF e Fomento PR;
- Proposta não apenas de postergação de pagamentos de impostos, mas redução deles;
- Coerência nas orientações do poder público nos âmbitos estadual e municipal. Se a principal estratégia de contenção da Covid-19 adotada no Brasil é o distanciamento social, é fundamental que salões de restaurantes e bares permaneçam fechados e que sejamos orientados semanalmente sobre os próximos passos;
- Medidas de conscientização junto aos locadores de pontos comerciais sobre a necessidade de renegociação e carência de aluguéis.
Curitiba, 16 de abril de 2020.
Andrew Guilherme Pereira dos Santos - Ananã Coquetéis
Karin Louise Kaudy - Ananã Coquetéis
Thiago Gabardo - Polpettas - Pizzas e Cozinha Italiana
Leonardo Z. Gabardo - Polpettas - Pizzas e Cozinha Italiana
Janaina Santos - Cosmos G/astrobar
Ricardo Saad - Cosmos G/astrobar
Bruno Milek - Jazz Café
Ênio Guilherme Motta - Jazz Café
Lívia Farah - A Caiçara
Fredy Ferreira - A Caiçara
Flávia Pizzani Prieto - Paradis Club
Edson Luis de Oliveira - Paradis Club
Isabelle Todt - Paradis Club
Luiz Melo - Supernova Coffee
Renata Schaitza - Mornings
Daphne Kondo - Yada Yada Yada e Nada Nada Nada
Alyssa Aquino - Yada Yada Yada e Nada Nada Nada
Daniele Giovanelli Jorge - Desafinado Café
Rafael Andrade Suzuki - Manifesto Café
Fabiola Jungles - Flama Torras Especiais
Daniel Mocellin - Whatafuck e Pizzaria da Mathilda
Ana Priscila de Mello Raduy - James Bar
Luciano Franco Geraldo - James Bar
Patricia Bandeira - Botanique Cafe Bar e Plantas
Juliana Girardi - Botanique Café Bar e Plantas
Patricia Belz - Botanique Café Bar e Plantas
Ieda Godoy - Mãe e Mafalda
Pedro Vieira - Ginger Bar
Milena Costa de Souza - Ginger Bar
José Carlos Gomes dos Santos - VU e PULP
Marcio Reineken - VU e PULP
Amanda Kosinski - Central do Abacaxi
Keiji Mitsunari - Izakaya Hyotan
Caroline Ferreira - Veg Veg
Karla Keiko - Oidē
Willian Massami Igi - Oidē
Maria Fernanda Marcuz de Souza Campos - Viva la vegan
Renan Toledo Sandalo - Viva la
Vegan
Marcela Dudalski - Paprica Vegan
Carolina Ferreira - Veg e Veg
Ermelino Veríssimo - Sem Culpa
Maurício Kuwer - Sem Culpa
Humberto Schvabe