Urbanização expõe seus problemas com a pandemia.

A pandemia da COVID-19 tem exposto diversas fragilidades estruturais da sociedade atual, tanto no Brasil quanto no mundo. Entre elas, destacam-se a crescente concentração urbana e a dependência dos transportes de massa para a movimentação global. A relação histórica entre doenças e cidades é evidente, desde a Gripe Espanhola em 1918 até o SARS em 2003. A rápida disseminação do novo coronavírus reforça essa relação, pois evidencia as estreitas ligações entre o desenvolvimento urbano e as doenças infecciosas. É fundamental compreender como o impacto de uma epidemia se relaciona com as transformações físicas, espaciais e sociais trazidas pela urbanização. Posteriormente, será necessário aprender como as cidades e as empresas podem desempenhar um papel crucial na prevenção e solução desses surtos epidêmicos, principalmente com o auxílio da tecnologia. As cidades e a pandemia A ONU estima que, em 2009, metade da população mundial vivia em áreas urbanas pela primeira vez na história da humanidade. Hoje, mais de 4 bilhões de pessoas vivem nas cidades, seis vezes mais do que em 1950. O estado de São Paulo se destaca por apresentar o maior número de concentrações urbanas no Brasil, proporção essa que se reflete nos altos índices de casos de COVID-19. A própria disseminação inicial da doença se deu em decorrência da movimentação global entre países: em janeiro de 2020, sete trabalhadores foram infectados durante uma sessão de treinamento em uma empresa de autopeças com sede na região da Baviera, na Alemanha, por meio do contato com um funcionário da empresa em Wuhan, na China. A região da Baviera é rural-urbana, e a Alemanha agiu rapidamente para conter a disseminação, fechando as fronteiras deste primeiro estado infectado com o restante do país, suspendendo a vida pública, o fluxo e a locomoção de pessoas e adotando o trabalho remoto. No entanto, essa decisão não foi tomada com a mesma agilidade em todos os lugares do mundo. Os surtos de doenças como a COVID-19 reforçam as desigualdades existentes e os problemas das infraestruturas de mobilidade. A urbanização, responsável por avanços tecnológicos, de transporte e de comunicação, está sendo posta em xeque do ponto de vista de contenção de doenças infecciosas.  A falta de infraestrutura social e técnica disponível para toda a população é um dos principais problemas das cidades diante de uma pandemia. Fotos de moradores de rua alojados em estacionamentos ao ar livre nos Estados Unidos, em uma cidade conhecida pelos seus hotéis (Las Vegas), evidenciam essa situação. No Brasil, uma das maiores preocupações com a disseminação da COVID-19 são as favelas à margem de grandes metrópoles, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, que contam com pouca infraestrutura e alta densidade populacional, inclusive dentro das mesmas casas. A migração em massa do campo para as cidades, a industrialização e o crescimento da população, aliados à falta de planejamento urbano, são as principais causas da formação desses lugares. Hoje, diante de uma pandemia, fica evidente que são formas de viver que colocam a população em risco. Como cita o New York Times, as pandemias são anti-urbanas.  Além das capitais e regiões metropolitanas, o ritmo da contaminação do coronavírus também acelera em cidades médias e pequenas pelo país. No entanto, cidades pequenas infectadas não diminuem as demandas nas grandes metrópoles, pois ainda é necessário ir aos hospitais dos grandes centros, o que aumenta ainda mais as demandas de estrutura das capitais. O novo coronavírus também mina ideias básicas sobre viver em sociedade, em particular na vida urbana. Pela necessidade do distanciamento social, os desejos de interagir em comunidade são impactados — e foi por meio deles que cidades foram construídas com praças, metrôs, espaços públicos e de lazer.  Na fase de transmissão comunitária da doença, como a atual, ver cenários de cidades quase vazias significa justamente a forma de combate à pandemia. No entanto, os problemas de urbanização continuarão evidentes. O papel das empresas na solução dos problemas urbanos A pandemia está tornando ainda mais evidente a interconexão do mundo moderno, desde o trabalho até o lazer realizado remotamente, e destacando a necessidade de prevenção e contenção como tarefas globais. A engenharia civil e o planejamento moderno nasceram do desenvolvimento em resposta à propagação da malária e da cólera nas cidades, no século XIX. A infraestrutura digital pode ser o equivalente sanitário do nosso tempo. É fundamental pensar em descentralização de serviços essenciais para reduzir a pressão da enorme contingência nos grandes centros urbanos e diminuir a necessidade de movimentação das pessoas. A tecnologia, que colaborou com a urbanização desenfreada, é também uma aliada eficaz no combate às epidemias, como a utilização da telemedicina — consultas médicas realizadas à distância, com o mesmo rigor e atenção. Empresas como a AliBaba, gigante do e-commerce chinês, estão utilizando a tecnologia para atuar na proteção da população, por exemplo, com um sistema de Inteligência Artificial capaz de diagnosticar, em questão de segundos, pessoas infectadas com o novo coronavírus. A Nokia criou o Epidemic Prevention System, iniciativa em Big Data que possibilita aos governos identificarem áreas e pessoas vulneráveis e controlar as quarentenas.  A tecnologia permitirá a continuação de diversos tipos de negócios que podem agir globalmente, de maneiras inimagináveis a algumas gerações atrás. Mas isso exigirá uma abordagem interdisciplinar que inclua geógrafos, cientistas em saúde pública, sociólogos, engenheiros e outros profissionais para desenvolver possíveis soluções para prevenir futuros surtos de doenças. Para isso, será necessário repensar as estruturas das cidades e da movimentação urbana a longo prazo. O papel das empresas atuais é fundamental nesse processo. O momento exige que as companhias com propósito social extrapolem o mundo teórico e passem a atuar, de fato, em favor das novas demandas da sociedade. Conclusão A pandemia do novo coronavírus tem exposto as fragilidades estruturais da sociedade atual, em especial a crescente concentração urbana e a dependência dos transportes de massa para a movimentação global. As cidades, em sua rápida e desordenada urbanização, não estão preparadas para lidar com uma pandemia. A falta de infraestrutura social e técnica, a alta densidade populacional nas favelas e a necessidade do distanciamento social evidenciam a necessidade de repensar as estruturas das cidades e da movimentação urbana a longo prazo. A tecnologia é uma aliada eficaz no combate às epidemias, mas exigirá uma abordagem interdisciplinar para desenvolver possíveis soluções para prevenir futuros surtos de doenças. O papel das empresas vigentes é fundamental nesse processo, já que elas precisam atuar em favor das novas demandas da sociedade.

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