Erro em urnas teria causado “inconsistência” na votação.
A eleição para conselheiro tutelar em Curitiba que aconteceu neste domingo, dia 6, foi cancelada. A decisão foi comunicada a candidatos e conselheiros da Regional Cajuru que se reuniram em frente à sala do Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente de Curitiba (Comtiba) para cobrar informações das urnas da região, que não tiveram os totais de votos divulgados.
Na fala para os candidatos, a presidente do Comtiba, Marjorye Gaiovicz, explicou que houve inconsistências em urnas de seis das dez regionais. Em comunicado público no site da instituição o órgão informa que o problema foi encontrado no Boqueirão, Bairro Novo, Cajuru, Pinheirinho, Santa Felicidade e Tatuquara.
Mas a principal dificuldade na apuração dos votos foi um problema na mídia de uma urna do Cajuru. A unidade teve a mídia de memória removida e testada numa urna de contingenciamento, que constatou falha na leitura dos dados.
No comunicado do Comtiba, a informa que esta urna que apresentou defeito, cujo número é 186, registrou, na realidade, o resultado da urna de número 169. A outra irregularidade encontrada com as urnas foi a apresentação de nomes e fotos de candidatos diferentes.
Até o próximo dia 9 de outubro um novo cronograma de eleição deverá ser divulgado.
Confusão e revolta
O problema com as urnas só foi informado por volta das 21h40, quando os resultados de nove das dez regionais já haviam sido divulgados. No salão onde os candidatos a conselheiros acompanhavam a apuração havia apenas representantes da Regional Cajuru, cujos números ainda permaneciam zerados.
Com o salão já quase vazio e sem notícias das urnas da Regional, os candidatos solicitaram informações à comissão eleitoral. Neste momento, o grupo foi informado de que os integrantes da comissão e do conselho estariam em reunião discutindo problemas na apuração dos votos num outro prédio dentro do complexo da Fundação de Ação Social no Campo Comprido.
Já bastante irritados, os candidatos seguiram para o local escoltados por guardas municipais. Foram barrados na porta. Com a movimentação, o presidente da FAS, Thiago Ferro, saiu do prédio para informar que a reunião estava próxima do fim. Ouviu uma chuva de reclamações.
Outro funcionário da FAS, Juliano Pedroso, saiu do prédio dez minutos depois e informou que a eleição no Cajuru seria cancelada. A notícia causou irritação e revolta nos presentes. “Como é que vamos fazer as pessoas votarem de novo”, questionava Nelci Freitas Correa.
Nelci também pediu para ser ouvida pela Comissão e pediu para ver os boletins das urnas da regional, no que foi apoiada por outros candidatos. Sem notícias, os candidatos começaram a acionar advogados e conhecidos enquanto a Comissão eleitoral e o Comtiba continuavam reunidos.
Uma hora depois, a presidente do Comtiba deixa o prédio e anuncia o cancelamento total da eleição.
Sem transparência e cheia de controvérsias
Para quem acompanhou o processo de inscrição dos candidatos a conselheiros tutelares, o cancelamento anunciado ontem, poucas horas depois do encerramento das votações, não surpreendeu. Desde o início a eleição curitibana sofreu inúmeras críticas e está sub judice.
A principal crítica é ao edital, que estipulou condições de inscrição que causaram dúvidas e revolta. Um dos critérios, por exemplo, era comprovar residência há dois anos, o que a Defensoria Pública considerou abusivo uma vez que impede a inscrição de candidatos de áreas de ocupação.
Outro item exigiu comprovação de 3 anos de trabalho na defesa das crianças e adolescentes em instituições com registro no conselho de direitos da criança e do adolescente.
Como a divulgação da eleição foi limitada a alguns veículos de comunicação da FAS, tanto a Defensoria Pública quanto o Ministério Público questionaram a falta de visibilidade do pleito. Mas com a divulgação da lista de candidatos divulgada só duas semanas antes da eleição, a campanha acabou limitada a poucos dias.
Além disso, como o Plural noticiou, das 50 questões da prova de conhecimentos específicos aplicada aos candidatos, 20 foram anuladas. A alteração fez saltar o número de pessoas aprovadas de 12 para 180.
Irregularidades
Mesmo se não fosse cancelada, a eleição do último dia 6 certamente iria ser discutida na Justiça. Durante o dia todo o Ministério Público recolheu denúncias e notificou pessoas acusadas de fazer transporte ilegal de eleitores até os locais de votação.
Vans, kombis e até mesmo ônibus teriam sido usados para levar pessoas para votar. Houve também denúncias de boca de urna e de campanha em igrejas.
A campanha de igrejas evangélicas e católicas por candidatos foi a principal reclamação dos candidatos. Pedidos de votos durante cultos e missas são vetados pela legislação, mas teriam acontecido. “Mas é difícil de fiscalizar, né?”, lamentou uma fiscal.
As denúncias e registros estão registrados nas atas das seções eleitorais, mas como a eleição foi cancelada, não devem ser investigadas.