O silêncio da verdade
Posso provar que a terra é redonda. Posso provar que H2O é água. Posso provar que 2x2 são quatro. Tudo isto são verdades apenas nada disso é a Verdade. A Verdade jaz para além, infinitamente além, de todas as verdades demonstráveis. A verdade começa lá onde terminam todas as verdades, todos os pensamentos, todas as acrobacias do intelecto.
A verdade jaz sepulta no profundo abismo do eterno silêncio da intuição mística.
A verdade é a consciência do Ser.
A verdade não existe, debilmente a verdade é poderosa.
Pode o meu pensar consciente por-me nas mãos do fio de Ariadne, e enrolando-o cautelosamente, com o lendário herói da Mitologia, saio do tenebroso labirinto das minhas velhas incertezas e sigo até o limiar do santuário da verdade, mas... não entro no santuário porque o fio de Ariadne está preso do lado de fora...
Nenhum pensar ou querer, nenhuma ciência analítica introduz-me no santuário divino da verdade suprema, da realidade última e absoluta para além de todas as coisas penúltimas e relativas... tenho de ser invadido pela alma do Cosmos para que o verbo se faça carne, para que a carne se possa fazer verbo... o infinito desce ao finito, para que o finito possa subir ao infinito... cesso de pensar e de querer e, com isto, cessam todas as ilusões do intelecto, todos os tormentos da vontade, todas as doenças crônicas do velho ego, todas as miragens do mundo objetivo, todas as misérias da personalidade... e desce sobre mim, qual orvalho vespertino, a grande Paz da Verdade, poderosamente, suavemente poderosa, “Dura como diamante, delicada como a flor do pessegueiro”... e eu sei e sinto, inefavelmente, que eu sou o universo, que o universo é eu... que “eu e o Pai somos um”, que é meu tudo que é do Pai.
E depois desse sangrento egocídio, após essa total eutanásia, eu me sinto divinamente redento de todas as amargas reminiscências do passado, de todos os temores do futuro...
Sei - não que encontrei a Deus - mas que fui encontrado por Deus, me acho porque me tornei achável... o Cristo me redimiu, porque me fiz redimível...
Aleluia!... Amém!...
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Autor:Humberto Schvabe