Se houvesse entre nós mais amor, não haveria necessidade da caridade, porque a caridade é filha da miséria, mas a miséria é filha da nossa falta de amor. O egoísmo humano, que é falta de amor, cria a miséria, a indigência, a pobreza, a fome, a desnudez, e, em face dessa numerosa prole gerada por nosso desamor, faz-se mister a caridade. A caridade não remedia os males da sociedade, apenas os atenua temporária ou parcialmente. É uma espécie de injeção, de anestésico, de soporífero, de pomada ou cataplasma que o homem egoísta que desejaria ser altruísta aplica às dolorosas chagas abertas pelo egoísmo e desamor dos homens. Se não houvesse exploradores, não haveria explorados, e, se não houvesse exploradores nem explorados, não haveria miséria – e não haveria ambiente propício para exercer a caridade. O triunfo do amor tornará impossível o exercício da caridade – a não ser em casos excepcionais, catástrofes inesperadas, terremotos, incêndios, enchentes e outros fenômenos não dependentes da maldade dos homens. Nessas ocasiões excepcionais seria necessária a caridade, mesmo entre homens cristificados pelo amor, mas a caridade não seria uma necessidade normal, permanente da nossa sociedade.Quando se serve, em qualquer forma a solidariedade, há um suave e doce encantamento que enternece o individuo dando-lhe sentido existencial e dignidade humana.