O Fantasma Descalço
O fantasma descalço
A infeliz foi chegando lentamente, de mansinho, sem fazer barulho, equilibrando-se quase que nas pontas dos pés como uma bailarina clássica, preparando-se como uma felina traiçoeira para o ataque decisivo, e por pouco não conseguiu. Nas gorduchas mãos, nada trazia que revelasse seu gosto aprimorado pelas jóias, nem mesmo disfarçadas em bijuterias. Notava-se, porém sacolas de roupas femininas, adquiridas com os cartões de créditos, hoje praticamente extintos pela compulsão doentia nos gastos contínuos. Sua infância e adolescência foram desastrosas, se vistas pelo ângulo familiar. As brincadeiras ora femininas, ora masculinas, se mesclavam com um toque todo especial de menina rebelde e travessa. Faltou-lhe a administração materna para que ela aprendesse a enfrentar o mundo cruel dos adultos, no qual logo iria entrar, enquanto o lado paterno, movido quem sabe pelo desgosto de uma vida miserável e cansativa, caminhava a cada instante em direção ao alcoolismo e à jogatina sem fim. Como diz o provérbio popular, toda safra dá refugo! E o ramo que lhe toca, segundo a genealogia, é o do rebotalho e o da escória, de uma péssima educação, no seio de uma família que na realidade nunca existiu. Para tanto, basta olhar mesmo de soslaio, as poucas folhas presas ao galho que lhe pertence por herança, para que você mesma sinta a queda da fruta bem perto da árvore produtora. Logo, para não fugir à regra, querendo ou não, você tem de viver de mãos dadas com os alcoólatras, com os assassinos covardes, com os malditos traficantes e desonestos de um modo geral. Entretanto, você não tinha e nem tem o direito satânico de infernar a vida dos seus semelhantes, especialmente os dias daquele que nos momentos mais terríveis da sua existência, estendeu-lhe a mão amiga, arrancando sua mísera pessoa da exclusão social. Você poderia de sã consciência, rever seu passado de decadência acentuada, beirando a miséria galopante. Assumir sua posição de senhora, como todos lhes chamam, sem saber quem você é! Este jovem a quem você enfeitiçou com chantagens, embora tenha calçado os sapatos errados, partiu decisivo e firme para a longa caminhada do sagrado matrimônio que continuará após a morte, conforme cremos. Aquele mesmo homem já com a mente amadurecida, continua sendo um vigoroso e nobre guerreiro. Suas fingidas investidas, nunca irão tirar o brio e a coragem deste lutador nato, que por descuido do destino você o tem, sem saber por quanto tempo, sendo esta a verdade nua e crua! Sua união conjugal há muito chegou ao final, mas, o divórcio tão almejado por você, visando à partilha dos poucos bens, esqueça! Recorde-se que, quem não foi boa filha, nunca será uma esposa ideal nem uma dedicada mãe. Continue se fortalecendo através das iguarias, para facilitar o desmoronamento total do lar, cuja falência você mesma está sancionando para sua ruína. E viver de aparências é contra os princípios cristãos. Cônscia destas normas, retroceda o quanto antes; mude de rumo enquanto há tempo e oportunidade, para que nem eu em particular, nem o mundo em que vivemos, possa sorrir da sua queda iminente, conferindo-lhe um título pejorativo acompanhado de uma medalha onde, de um lado estará a sua efígie e do outro, uma lacônica inscrição na qual se lerá: Ao resto de todas as mulheres!
Vanelo36@yahoo.com.br
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Autor:Humberto Schvabe