O Dono das Bancas

Os quadrinhos nacionais tem um expoente de causar inveja ao mercado internacional. Seu nome se confunde com o mercado nacional de quadrinhos, além de ser publicado em vários países, Maurício de Sousa.
Repórter de jornal, Maurício cobria espaços no diário com suas tiras de quadrinhos, foi quando reuniu vocação e paixão. Passou a circular pelas cidades da região de Mogi das Cruzes de ônibus para oferecer suas tiras a jornais.
Tentou produzir quadrinhos convencionais quando por orientação do editor Jayme Cortez focou nos infantis. Teve uma primeira revista em 1960, Bidu, com compilação de tiras pela editora paulistana Continental, sem sucesso comercial.
Inspirado pelo mercado americano criou uma agência distribuidora de tiras no Brasil, para trabalhos seus e de outros artistas.
Passou por grandes editoras desde 1970, Abril, Globo e atualmente Panini. Suas vendas no Brasil superam os blockbusters americanos nos EUA. Declarou que seu personagem baseado no Ronaldinho Gaúcho é o mais lido no Mundo. Em 2008 tornou seus personagens adolescentes em estilo mangá, o maior sucesso atual de vendas em bancas brasileiras. Em 2012 foi a vez de lançar seus personagens com abordagem adulta por autores diversos do mercado nacional.
Além dos quadrinhos, seus personagens figuram na TV, teatro, cinema, franchising de produtos alimentícios, vestuário e brinquedos.
Com mais de 80 anos, Maurício continua em atividade e não para de inovar.

Lista de revistas com trabalhos de Mauricio de Sousa
Mauricio de Sousa nasceu numa cidade no interior de São Paulo, Santa Isabel. Lia bastante, quando criança, as HQs do “Spirit”, de Will Eisner, e “Buz Sawyer” (“Jim Gordon”), de Roy Crane, de onde tirou a inspiração para escrever HQs. Aos 12 anos criou seu primeiro personagem, o “Capitão Picolé”, muito parecido com o atual dinossaurinho verde Horácio, porém sem cores e com uma capa. Aos 18 fazia mini-histórias e entregava para os colegas da escola, onde esses colegas eram os próprios personagens.
Em 1959, Mauricio teve sua grande oportunidade quando o caderno de variedades da “Folha da Manhã” (atual “Folha de S. Paulo”) encomendou ao desenhista uma tira semanal. Inspirado por sua infância, Mauricio desenvolveu um tema simples, com pequenas situações envolvendo um menino e seu cachorro. O cachorro foi baseado em Cuíca, um pequeno “schnauzer” que Mauricio teve quando garoto. Já o dono do cachorro tinha um pouco do próprio autor e também características de um dos sobrinhos de Mauricio. Era a primeira vez que ele usava um parente como inspiração, prática que se tornaria comum nos anos seguintes. Ao contrário de outras tiras, as histórias eram na vertical e não apresentavam textos.
Tanto a tira quanto seus personagens não tinham sequer um nome, situação que se estendeu por meses, até Mauricio fazer uma enquete com seus companheiros de jornal. O cãozinho foi chamado de Bidu e o garoto de Franjinha. Bidu, a princípio, era branco (já que a tira era em preto e branco) e só quando veio sua revista, que durou apenas oito números, ganhou sua famosa pelagem azul.
Bidu ganhou revista própria em 1960, pela editora Continental, editada por Jayme Cortez. Mas Mauricio teve que abandonar o projeto porque fazia tudo sozinho e ainda trabalhava como repórter.
Maurício acabou saindo da “Folha”, mas retornou em fevereiro de 1963. E, numa tira em preto-e-branco de “Cebolinha” publicada em 21 de março daquele ano, surgiu a menina Mônica, que acabou se tornando a principal personagem de Maurício. Ainda naquele ano e 1963, ele participou ativamente da criação do suplemento infantil “Folhinha de S. Paulo”. E, dois anos, depois lançou pela F.T.D. alguns livros infantis com personagens como Astronauta e Piteco.
Mauricio presidiu a Adesp (Associação de Desenhistas de São Paulo) durante a luta política pela reserva de mercado para quadrinhos nacionais. Após 1964, porém, a Adesp foi investigada e o desenhista tornou-se o membro mais visado da entidade. Durante o regime militar, ele passou, temeroso, a medir todas as palavras que pronunciava sobre seu envolvimento com a Adesp. Temia que a referência à sua participação no movimento de nacionalização levasse os militares a considerá-lo comunista. Esse cuidado acabaria por levá-lo a demonstrar publicamente um juízo a respeito dos companheiros. Ao fazer uma revisão de seu papel, procurou inicialmente amenizar sua importância na campanha. Numa das poucas vezes que falou sobre o assunto, disse que se decepcionou com os colegas porque havia interesse político-partidário por trás da campanha pela reserva de mercado, entre 1961-64. Afirmou que havia sido um dos criadores da Adesp, mas que, contra a sua vontade, a entidade ganhara “cores políticas um pouco radicais”, o que teria provocado sua saída da associação.
Nessa época, tinha um pequeno estúdio em Mogi das Cruzes: o Bidulandia Serv. de Imprensa. Mas o pequeno estúdio não dava conta do trabalho, que crescia cada vez mais. Para dar conta das futuras demandas, criou uma distribuidora, a Mauricio de Sousa Produções, em janeiro de 1966. E naquele ano Mauricio e Cortez se juntaram em uma única aventura: o Festival de Lucca. Foi a primeira viagem internacional de Maurício. No ano seguinte, começou a licenciar seus personagens para produtos comerciais e produziu propagandas animadas para o extrato de tomate Cica, com Mônica e Jotalhão. A popularidade de seus personagens aumentou mais ainda. Em 1969 estava tudo pronto para lançar um novo gibi da Turma da Mônica, em parceria com a UBE e a nanica Gráfica Rossolillo Ltda., mas o lançamento foi cancelado na última hora. Quando afinal voltou às bancas, em 1970, pela Editora Abril, já estava preparado. Ele já tinha montado uma equipe para ajudá-lo. E com a inclusão de outros roteiristas, desenhistas e arte-finalistas, o estilo dos primeiros números e das velhas tiras de jornal começou a mudar. Em 1972 compareceu ao “Primeiro Congresso Americano Internacional de Histórias em Quadrinhos” em Nova York.
Em 7 de agosto de 1986 Maurício publica a tira em preto-e-branco “Turma da Mônica” no jornal “O Estado de São Paulo”. Era o primeiro passo para o fim da parceria com a “Folha”, onde os personagens principais de Mauricio nasceram e cresceram. Em 1987, o desenhista sai definitivamente da “Folha” e assina contrato com o “O Estadão”, para produzir o recém-lançado suplemento “Estadinho”.

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