A moça da padaria

Na verdade, é a mesma menina da minha rua, já citada na edição passada por um vizinho próximo e distante ao mesmo tempo. Sendo uma criança, ela precisa burlar os artigos, parágrafos e tudo do Estatuto da Criança e do Adolescente, para conseguir uma ocupação honesta, esperando fazer face aos custos normais da outra criança, que ela embala cuidadosamente pelas ruas acidentadas, do proletário bairro cujo nome, por um lapso de memória, foi lançado pra fora da minha mente. Contudo, o arremesso posso lhes dizer que foi mesmo de propósito, já que um cronista palmilha sempre terrenos minados e então, na medida do possível  ele usa os atalhos convencionais, para evitar confrontos  diretos.  As Leis Trabalhistas proíbem o trabalho infantil e lembram a todos que  lugar de criança é na escola , em preparação para a vida adulta com seus múltiplos problemas.  Milhares e milhares de empregadores com o fito de reduzir seus custos operacionais correm o risco de uma visita inesperada, das autoridades competentes, acompanhada de uma autuação nem sempre generosa. E no caso desta jovem e indefesa mãe, não existem  alternativas  senão, de bom humor agradecer a “generosidade” dos empresários desonestos e corruptos que sugam o sangue dos menos favorecidos da sorte. Hoje mesmo a vi envergando com garbo seu uniforme  de trabalho. Achei-a diferente e bem gentil. Atendia os clientes conforme orientação recebida da gerência que de longe a observava. Tomara que ela seja aceita e receba em determinado dia, o salário digno de todo trabalhador. Mais seu semblante continua sempre preocupado, com o pensamento voltado para seu anjinho, que com certeza tem um lindo nome. Nos dias atuais os recém nascidos  recebem ainda nas Maternidades, os mais diferentes e sofisticados nomes que podem ser simples ou compostos; uns bem conhecidos, outros  estrangeiros que causam dificuldades nas pronúncias americanizadas. De qualquer maneira o que espero é que, mãe e filho sejam muito felizes e que juntos, possam desfrutar dos momentos quase santos. Hoje, olhando-a de perto, pude penetrar um pouco mais no âmago da sua tenra idade, e posso assegurar sem dúvida de erro nos cálculos: não são mais de 15. Deixei o estabelecimento sem lhe dirigir a palavra já que fiz questão de ser atendido por outra funcionária, para que ela se sentisse mais à vontade e certamente no íntimo, pudesse me agradecer. Com certeza, durante o  turno acelerado de labor, a criancinha com muita sorte e boa vontade da direção da creche, foi agraciada com uma vaga e a isto, podemos chamar de milagre por estas bandas.  Aliás, a bem da verdade os governos não estão nada preocupados com este tipo de assunto que fere de uma maneira frontal as famílias carentes. Mais não fiquem aterrorizados porque os políticos ilustres, na busca dos preciosos votos oferecem em troca, tudo o que não podem dar. E no topo das ofertas estão: saúde, segurança, educação e, mais um pacote de tudo de bom e saudável para todos. São todos uns enganadores do povo que depois do pleito desaparecem como que por encanto, abandonam e escorraçam das suas presenças os eleitores.  Se as promessas propaladas fossem cumpridas mesmo de maneira tímida, a moça da padaria não estaria sendo alvo destas considerações. Isto porque, ela teria estudado e feito pelo menos um curso profissionalizante e neste, receberia inclusive noções de éticas e com certeza, o pai do seu rebento seria um rapaz consciente e digno dos seus atos. Mais ela é muito novinha e poderá reverter a situação na qual hoje se encontra à beira do precipício. Continue sua jornada e construa seu próprio mundo que daqui, sem saber seu nome, você será sempre pra mim conhecida como, a jovem da minha rua, ou mesmo… A moça da padaria.

 

Vanelo [email protected]

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