Raízes

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Já se passaram mais de noventa anos, na cidade de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo.
Era um jovem, bonito com apenas dezenove anos vindo de Portugal, muita coragem e disposição em busca de realizar seu sonho de conquistar um pedaço de chão para criar uma família e fixar moradia no Brasil.
Seu nome, Adelino, um português muito determinado com objetivos claros e determinação que o conduziram logo a conquistar cinco alqueires de mata fechada. Mata Virgem, que foi derrubada no machado. Árvores e mais árvores e cipós, enfrentando cobras e outros bichos. Na luta, além das mãos calejadas, algumas cicatrizes como vestígios dos cortes profundos de machado e foice. Não desistiu. Nesta luta, sempre convivendo com a comunidade conheceu Elvira, uma menina meiga que logo se apaixonou por Adelino e com ele foi dividir a modesta casinha de barro coberta de sapé, onde iniciaram sua vida em comum.
Veio o primeiro filho, que aos seis meses faleceu com coqueluche (tosse comprida), em seguida veio o segundo filho que aos seis meses, sem conhecer a vacina teve paralisia infantil. Mesmo diante de tanta dificuldade chegou a ser tratado na capital de São Paulo, mas mesmo assim ficou com sequelas da paralisia.
O sofrimento era grande, mas a fé do casal era maior, não desanimaram por nada.
Quando criança, contam que uma tia cuidava do pequeno José enquanto seu pai trabalhava na plantação de café, arroz e cuidando do pomar, além de uma verdadeira videira que chegou a produzir mais de mil litros de vinho por ano.
Os anos foram passando e chega o momento de ir para escola, como ele não podia ir caminhando, o pai comprou uma égua, que o conduzia junto com o irmão mais novo Augustinho no percurso de cerca de três Km.
José usou aparelho na perna em toda sua vida até falecer aos 82 anos, também seguiu o exemplo do pai e mesmo com sua deficiência nunca deixou de trabalhar, assim como seus oito irmãos e irmãs, todos os trabalhadores exemplares. Os homens na roça, as mulheres nos afazeres domésticos e as crianças brincando e sendo crianças sem a tecnologia de hoje. Depois de muito trabalho, um pomar com uma variedade grande de frutas, com o tempo ele estava com um maravilhoso sítio formado. Como o vinho era para consumo, além de fornecer ao padre que dizia ser para eucaristia, a renda vinha do café e das frutas e verduras vendidas na cidade em feiras. Assim foi se desenvolvendo e criando a família.
O casal teve dez filhos, não havia televisão, celular, então as noites os pais se reuniam com os filhos, para contar histórias, anedotas, enfim… nesta roda juntavam alguns vizinhos, compadres, reinava muita alegria contagiando a todos naquele doce lar.
Já numa casa de alvenaria, com uma área grande onde acomodavam os filhos: José, Augustinho, Luiz, Izaura, Zilda, Oscar, Neide, Helena e Irene.
No ano de 1937 comprou um Ford, automóvel que ele o chamava de charanga, era bonito de ver aquele carro “abarrotado” de pessoas: o casal e os nove filhos rumando para a missa aos domingos.
Missa “sim senhor”. Era sagrado a frequência de todos à missa de domingo.
Adelino faleceu no ano de 1972 e sua esposa Elvira no ano de 2000 e Luiz e José falecidos.
Os demais continuam levando a vida.
Estás reflexões chegaram até a mim pela Zilda, filha do português e minha irmã, pois eu era muito criança e não lembrava com detalhes, do aqui relatado.

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