O Umbará e os bairros visíveis

Jornalista Humberto Schvabe

Antes que alguém pergunte ou critique, ou não entenda as razões deste texto, deixo claro que fiquei magoado. Magoado por ter sido esquecido sim. Pois, ao longo da existência da Gazeta do Bairro, todo mês, religiosamente, o jornal é entregue na secretaria da Paróquia do Umbará. Temos noticiado muito do que acontece nesta paróquia, no Farol do Saber, na escola, no bairro… Registrado e acompanhado, quando somos informados, ou mesmo quando eu, como repórter, ou alguém da equipe, descobre alguma coisa, como aconteceu com o lançamento deste livro, depois de lançado.
Com o texto de reclamação pronto, apaguei tudo (ou melhor, deletei). Deixo esta introdução (para reflexão). A seguir apresento uma maneira inusitada de “refazer”, ou “responder” o trabalho do colega que foi pela primeira vez ao Umbará, começando pelo título.
Em tempo, vale ressaltar que entendo bem que quem faz sempre corre o risco de errar, e, o que foi feito ali, foi bem feito. Um belo trabalho que merece meu respeito. Em meio a tanta gente envolvida e participando desta ativa comunidade, sempre alguém vai ser esquecido, sei. Mas aos esquecidos também fica o direito e a obrigação de reclamar.
É isto que faço aqui em nome dos que foram esquecidos, mesmo sem ter recebido a procuração de todos.
Viver na periferia é uma experiência incrível. Além da derrubada das árvores que ainda existem, também enfrentamos a discriminação de alguns da área central ao mesmo tempo em que desfrutamos cenários fantásticos que por vezes assustam gente mais “urbanizada”. Bem integrados à metrópole, ainda somos desconhecidos, para uma boa camada da chamada “grande imprensa”, por exemplo, que pode considerar momentos únicos, o simples transitar por nossas ruas e uma visita ao nosso querido Umbará, como comenta o colega articulista das terças da coluna “Vida e Cidadania”, da Gazeta do Povo, Rodrigo Wolff Apolloni. Também concordo (com sua camiseta) que paz sem voz é medo, e sem medo, em busca da paz e respeito pela nossa região, deixo aqui, minha voz refletindo a opinião de outros que aqui vivem.
A convite da editora e não de gente daqui, ao deixar a redação do maior jornal da capital, deu vazão à sua cultura, afirmando que direcionou seu olhar blasé, em busca de uma experiência exótica. E continua afirmando que de início se confirmava assim, mesmo em meio à chuva e a escuridão. E, ao invés de reconhecer que errou o caminho, utilizou sua veia poética para expressar a substituição do “caminho regular por um brumoso trajeto que eu jamais conseguiria repetir”. Depois de muito, afirma ter visto “a iluminada torre amarelo ovo da igreja”; para seu alívio! Deixou claro que se sentiu no fim do mundo.
Ao adentrar o salão, notou que exótico era seu olhar. Fala da celebração como um justo reconhecimento ao esforço comunitário. A recepção do pároco e o prato da noite: “frango e maionese”, foi também lembrado, assim como prestação de contas de todos os gastos, sem registrar nenhum valor, senão os R$ 32,00, que o padre “tirou do próprio bolso (…) pra fechar a conta”.
Falou do primoroso livro, seus autores, da alegria geral, reclamou por ser identificado apenas como jornalista da Gazeta, registrou o fato de ter distribuído autógrafos para algumas adolescentes “que também se esbaldavam com a comida”. Encerra descrevendo o sorriso discreto de sua esposa enquanto comia uma ameixa, assim mesmo, sem nome depois do título. Encerra o texto, saciado da beleza, lembra a saída do local, ou melhor, a volta para casa.

 

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