As derrapagens da vida

Na semana passada a má sorte (para não dizer desgraça, que tem o mesmo significado), me visitou estando eu acordado e lúcido. Chegou em forma de mulher, montando um cavalo alado puro sangue com asas descomunais, que rasgava os ares com uma velocidade assustadora para atingir seu alvo: eu! Estancou em minha frente e de uma distância, já personificada em uma das constelações do zodíaco que separa os signos, tomou a forma de Sagitário; alcançou a flecha, retesou o potente arco e disparou em minha direção para ferir-me de morte, sem conseguir o alvo desejado com precisão, e dilacerar meu coração acostumado às constantes batalhas, desde minha tenra idade que bem longe vai! Balançou sim, com decadente esforço, a estrutura do meu corpo, sem atingir o meu espírito vigoroso e nobre. Reconheço a minha parcela de culpa nos acontecimentos involuntários, e geradores de tais conflitos que desencadeou um choque entre as pessoas maliciosas ou não! Mas o alarde que atingiu alguns departamentos isolados não seria necessário, quando bastava apenas dialogar; conversar de maneira civilizada buscando a essência dos fatos. A primeira providência por mim adotada foi, acalmar a parte oposta tomada pelo desespero e que na realidade não cometeu nenhum desastre, que viesse desabonar sua conduta. Fiquei sensibilizado ao ouvir seu choro implorando desculpas, quando não devia, porque assim fazendo me fez derramar algumas lágrimas em profundo silêncio, e estas são os desabafos naturais de nós mortais. Perdão foi feito pra a gente pedir! E com a determinação que me é peculiar, foi o que fiz alicerçado na firmeza que sempre me acompanhou. Entrei em um recinto privado para ouvir e ser ouvido. Tinha comigo a convicção de que, conforme o desenrolar da entrevista, poderia perder toda minha carreira eclesiástica, numa única parada. Isto porque, nem a parte oposta que chamarei de X, como se uma incógnita fosse, e nem eu, tivéssemos cometido erro algum que pudesse dilacerar nossas personalidades. Isentei-a de todas e quaisquer culpas mesmo as inexistentes e perdoei-lhe também, de maneira definitiva. Lembro aos que por ventura queiram saber que, minhas mãos estarão sempre estendidas para minha amiga X, percorrendo ou não os horizontes em cruzeiros imaginários, que só as mentes criativas e férteis são capazes de forjá-los. Amiga, quando adormeceres repousa na virtude e na dignidade que são teu berço nesta vida, já que és uma filha do Eterno Pai, como um cronista escreveu.

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